sexta-feira, 7 de março de 2014

Vitória de Inglaterra (Isabel Machado)

Chegada ao trono com uma determinação inabalável e disposta a moldar o seu reino aos ideais que trazia consigo, Vitória de Inglaterra traz no coração um afecto profundo ao reino de Portugal e à jovem soberana que, em tenra idade, viu pela primeira vez. Mas os anos virão a trazer inúmeras tribulações e perdas insuperáveis, ainda que o afecto de rainha e de mulher deva prevalecer. Um abismo separa, contudo, os interesses dos homens e das diferentes potências das afeições que definem os assuntos de coração. Coroada na flor da juventude, Vitória reinará durante décadas, dividida entre o papel de rainha e o da mulher que quer ser. E, mesmo quando as mais duras tribulações se erguerem, terá sempre Portugal no pensamento. Assim o diz esta sua história.
Um dos primeiros aspectos a chamar a atenção neste livro é a forma como é narrada, em parte na terceira pessoa, mas parcialmente pela voz da própria Vitória. Esta forma de construir a história abre, desde logo, uma perspectiva sobre o fluir dos acontecimentos, já que a voz de Vitória acrescenta um ponto de vista mais pessoal a um todo em que as posições de algumas outras personagens também são relevantes. Sobressai também, desta estrutura, um outro elemento relevante. É que as partes narradas por Vitória são também, na maioria, as que mais dizem respeito à sua vida sentimental, pelo que a narração na primeira pessoa destes episódios - de sucessos, de perdas ou de desilusões - cria uma impressão de maior proximidade, o que contribui em muito para que a leitura se mantenha envolvente.
A nível de contexto histórico, é preciso considerar, em primeiro lugar, que o reinado de Vitória se estende por várias décadas, pelo que há muitos acontecimentos relevantes a mencionar. Neste aspecto, fica, por vezes, a sensação de que alguns temas poderiam, talvez, ter sido mais aprofundados, principalmente no que diz respeito aos acontecimentos na Índia ou em África. Ainda assim, esta brevidade faz algum sentido, tendo em conta que a história se centra mais na figura de Vitória, e não tanto nas acções do reino, como um todo.
E, tendo isto em conta, importa, naturalmente, falar da caracterização da protagonista. Neste aspecto, o que sobressai é o delicado equilíbrio entre o papel de mulher e o de rainha, com todas as dificuldades inerentes em conciliar ambos. Assim, a imagem construída para Vitória é a de uma mulher dividida entre responsabilidades e afectos, nem sempre correcta nas suas escolhas, mas tão forte, nalguns aspectos, como vulnerável nos sentimentos que acolhe. O retrato que fica é o de uma figura humana e complexa, protagonista de grandes momentos, mas também de pequenos episódios marcantes que, pela emoção que contêm, acabam por se contar entre os mais memoráveis.
Tudo isto se conjuga para dar forma a um livro cativante, interessante do ponto de vista do contexto histórico e marcante, principalmente, pela dualidade entre os afectos e as responsabilidades, personificada na sua figura central. Uma boa leitura, portanto. Gostei.

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