Providence Dupois precisa urgentemente de viajar até Marraquexe, onde irá buscar a sua filha adoptiva, que sofre de uma doença terrível. Mas vê-se presa no aeroporto, devido à nuvem de fumo provocada pela erupção de um vulcão islandês. Incapaz de aceitar que terá de quebrar a promessa que fez à pequena Zahera, Providence está disposta a tudo para conseguir chegar ao seu destino. Mesmo que isso implique seguir a dica de um distribuidor de panfletos chinês que fala como um pirata e ir em busca de uma forma de voar pelos seus próprios meios.
Tal como A Incrível Viagem do Faquir que Ficou Fechado num Armário Ikea, este é um livro onde o improvável é tão frequente e apresentado com tanta naturalidade que praticamente se torna normal. Desde a simples premissa de se poder voar pelos seus próprios meios até ao muito que têm de caricato os mestres a que Providence recorre, e sem esquecer os estranhos sonhos de Zahera, tudo neste livro é peculiar - e aparentemente pouco plausível. Mas é precisamente a forma como o autor parte deste vasto conjunto de improbabilidades para criar uma história convincente e cativante que torna esta estranha narrativa tão interessante.
Mas, se há muito de interessante, no conjunto de peculiaridades que guiam o percurso de Providence, e ainda mais nas grandes revelações à espera no final do livro, há um outro aspecto a desempenhar um papel fundamental no que torna esta história memorável. Falo da emoção. Da emoção provocada por uma mulher disposta a tudo para cumprir uma promessa, da que desperta uma criança doente com sonhos do tamanho do mundo, do impacto lancinante da revelação de uma verdade que - escondida nos confins de uma história bonita - contém um peso devastador. Emoção em toda a sua glória e em todo o seu poder: empatia, ternura, inocência, dor, perdão, superação. Todo um leque de sentimentos e de escolhas que falam ao coração do leitor, fazendo desta estranha aventura mais do que simplesmente uma história caricata. Porque, mesmo onde tudo é improvável, há, ainda e sempre, algo de universal a reconhecer.
E depois há o outro lado, o lado divertido, descontraído, assente, em grande medida, no lado caricato da história, mas também na tal visão inocente que nos permite ver o mundo como sendo um pouco melhor. Há aqui um equilíbrio delicado, entre os momentos de humor e as situações de tensão, a fazer lembrar que a vida não é só feita de alegrias - mas também não é só feita de tristezas.
E, assim, o grande trunfo deste livro é a forma como transforma tudo o que tem de estranho em algo tão simples e natural. O resultado é uma leitura leve, descontraída, mas marcante e comovente em todos os momentos certos. Cativante e surpreendente, um livro muito bom.
Título: A Menina que engoliu uma Nuvem do Tamanho da Torre Eiffel
Autor: Romain Puértolas
Origem: Recebido para crítica
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