Quando recebe a visita de Maria Maffei, cujo irmão se encontra desaparecido, Nero Wolfe não julga ter pela frente um caso capaz de lhe despertar grande interesse. Mas isso não tarda a mudar, quando, numa investigação feita por descargo de consciência, o seu ajudante, Archie Goodwin, descobre que o desaparecido recortou do jornal uma notícia sobre a morte de um eminente professor universitário. E quando Carlo Maffei aparece morto e novas pistas vêm à superfície, a relação entre as duas mortes começa a tornar-se evidente - pelo menos para alguém com as afinadas capacidades de raciocínio de Nero Wolfe. As provas não são muitas e, por isso, é preciso agir com todo o cuidado. Mas, pouco a pouco, Archie e Wolfe começam a aproximar-se da verdade. E a retaliação do assassino não se faz esperar.
Primeiro volume de uma extensa série dedicada aos casos investigados por Nero Wolfe e o seu fiel ajudante, este é um livro que cativa, acima de tudo, pela peculiaridade. Peculiaridade do enredo, desde logo, mas acima de tudo das personagens. E há, desde logo, um aspecto curioso. É que este pode ser o primeiro caso a ser narrado, mas há outros, anteriores, que vão sendo referidos ao longo do enredo, e que permitem entrar na história - e na relação entre os protagonistas - de uma forma mais fluída e natural. Ora, isto é mais do que o suficiente para despertar curiosidade e, à medida que vamos conhecendo melhor as excentricidades de Wolfe (e não só, diga-se), toda a narrativa ganha uma nova intensidade, pois facilmente as personagens se tornam familiares.
Outro aspecto que importa referir é que este é o tipo de policial que vive mais da racionalidade do que do perigo. Sim, há momentos arriscados, mas o essencial da história são os passos dados pelas personagens em direcção à resolução do mistério, partindo quase que de palpites e suposições aparentemente pouco plausíveis, para depois seguir até às derradeiras revelações.
O que me leva ao ponto fulcral deste livro: a revelação da identidade do culpado. Ora, tendo em conta o rumo da história, não se pode dizer que seja particularmente difícil identificar o assassino. Mas se é verdade que , neste aspecto, a história se torna um pouco previsível, também o é que, se a resposta parece fácil, já os métodos para lá chegar são deliciosamente intrincados. E acaba por ser precisamente esse o ponto forte desta história: a forma como tudo aponta para a resposta, mas, ainda assim, são muitos os pontos de interesse ao longo do caminho que leva até lá.
Da soma de tudo isto, fica a ideia de uma leitura intrigante, surpreendente na construção (ainda que não muito na revelação do mistério) e em que os protagonistas se revelam, em toda a sua excentricidade, como duas figuras fascinantes e que vale a pena acompanhar. Vale, pois, a pena ler este Picada Mortal e ficar a conhecer Nero Wolfe e Archie Goodwin.
Título: Picada Mortal
Autor: Rex Stout
Origem: Recebido para crítica
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