Após anos de rebeldia e de uma falsa liberdade, Clara construiu finalmente uma vida estável e feliz ao lado de Santiago. Casou, teve uma filha e estão agora a construir a casa com que ela sempre sonhou. Mas tudo fica em perigo quando o grande fantasma do seu passado volta a surgir. Em tempos, Hugo salvou-a das mãos de um pai agressivo, mas o preço a pagar foi demasiado caro. Agora, passados dez anos, Hugo saiu da prisão e está disposto a tudo para recuperar Clara, que vê como o seu troféu e sua por direito. Esconder o passado e ignorá-lo deixa então de ser uma opção para Clara. Mas como contar ao homem do seu presente que o seu amor do passado não está esquecido?
Centrado na dualidade entre os dois tipos de amor da vida de Clara e, desta forma, na relação da protagonista com os dois homens da sua vida, este é um livro que se divide essencialmente em duas facetas: por um lado, a do perigo potencial, com a forma de lidar com a obsessão e perseguição de Hugo a destacar-se neste aspecto, e por outro o impacto emocional das memórias, com uma Clara dividida entre um amor que parece mais sólido, mas menos intenso, e a memória de uma aparente liberdade que deixou sentimentos profundos. Tudo isto cria um equilíbrio intrigante, pois fica sempre a vontade de saber mais: o que aconteceu, primeiro, depois o que se seguirá, que escolhas fará Clara e de que forma essas escolhas virão a influenciar o futuro.
Outro aspecto curioso nesta história é que, apesar da divisão clara entre o amor dedicado e o amor doentio, as linhas que separam Hugo de Santiago não são assim tão óbvias, principalmente no que ao coração de Clara diz respeito. A vida calma e feliz do presente nem sempre parece chegar para afastar o apelo do passado e a forma como a autora desenvolve isto faz com que a história se torne imprevisível. Talvez nem sempre, talvez não na grande conclusão. Mas nas escolhas que, ao longo do caminho, vão conduzindo as personagens ao desenlace final.
Contraditórias por natureza e capazes de uma surpreendente volatilidade de sentimentos, nem sempre é fácil sentir empatia para com estas personagens. A divisão de Clara entre os dois homens da sua vida leva-a, por vezes, a escolhas difíceis de compreender e o mesmo acontece com algumas das atitudes de vários outros intervenientes, o que cria uma certa distância relativamente à situação emocional das personagens. Ainda assim, a fluidez da escrita, a intensidade dos momentos mais marcantes e a envolvência geral do enredo compensam em grande parte este ocasional distanciamento emotivo. E, assim sendo, a leitura nunca deixa de cativar.
A impressão que fica é, pois, a de uma boa história, em que personagens complexas e humanas vivem uma história que é tanto de amor e de obsessão como de escolhas e das suas consequências. Intrigante, de leitura agradável e com vários momentos intensos, uma boa leitura.
Título: A Sombra de um Passado
Autora: Carina Rosa
Origem: Recebido para crítica
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