Há quem diga que a pior coisa que alguma vez aconteceu a um super-herói foi o que sucedeu a Jessica Jones quando esteve sob o controlo do Homem-Púrpura. Mas não. A pior coisa que aconteceu a um super-herói - e a Jessica Jones - está a acontecer agora. Saber que ele anda à solta, que pode ser qualquer um e que não parará até a ter encontrado. A expectativa é terrível, principalmente agora que, pela primeira vez, Jessica tem tanto a perder. E embora já não esteja sozinha, sabe que tem de ser ela a lidar com o seu maior inimigo: primeiro, porque é por ela que ele está obcecado; e segundo, porque qualquer um pode ser uma arma contra ela. O reencontro terá de acontecer - e as consequências, essas, são imprevisíveis.
Parte do que torna esta protagonista tão fascinante é o facto de ser extraordinariamente humana para super-heroína. A vida de Jessica Jones é feita, em grande medida de caos: caos provocado pelas suas decisões, pelo tipo de pessoas e organizações com que convive e pelo simples peso do passado que traz consigo. Jessica, como tantos dos que a rodeiam, tem super-poderes, mas não é de todo isso que a define. E é neste reencontro com o passado, em que o seu maior medo vem ao seu encontro para desencadear algo que desconhece, mas que será inevitavelmente um fim, que vemos Jessica no seu mais vulnerável. E também na sua máxima força.
Outro aspecto que sobressai é a manutenção de um contraste que já vinha de trás - entre os tons sombrios do noir e os rasgos de acção e de cor da história de super-heróis - numa história em que o lado detectivesco passou para um claro segundo plano. Este livro tem muito pouco de história de detectives - e o que tem é também bastante inesperado. Ainda assim, os tons sombrios dos cenários lembram o caminho percorrido até este ponto, com a agência de Jessica ainda a desempenhar um papel importante na resolução final. Além disso, os cenários sombrios ajustam-se na perfeição ao estado de espírito da protagonista. Basta olhar para as expressões do seu rosto para o perceber.
É de um final que se trata - e, tendo em conta que a linha central da história é o confronto de Jessica com o Homem-Púrpura, talvez se possa julgar que certos desenvolvimentos serão expectáveis. Mas, se há um ou outro aspecto que é relativamente fácil de prever, já o caminho até lá está cheio de surpresas, e há algo de absurdamente brilhante em conseguir gerar empatia por uma personagem que durante todo o caminho foi a imagem perfeita do terror e da aversão. Além, é claro, de um último aspecto: ao acrescentarem um novo caso após a grande resolução do conflito, os autores mostram-nos também que a vida continua. Que esta parte da história de Jessica Jones pode muito bem ter acabado, mas a sua vida não.
Heróica e humana, forte e vulnerável, dividida, mas com o coração no sítio certo, Jessica Jones é, em todos os aspectos, uma personagem memorável. Intenso, complexo e cheio de surpresas, este é um final à altura da sua personalidade.
Título: Jessica Jones, Vol. 3 - O Regresso do Homem-Púrpura
Autores: Brian Michael Bendis, Michael Gaydos e Matt Hollingsworth
Origem: Recebido para crítica
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