quarta-feira, 30 de março de 2011

O Clube da Extinção (Jeffrey Moore)

Fugindo dos problemas (ou talvez de si próprio), Nile Nightingale dá por si a investigar uma velha igreja para venda quando um som estranho o afasta das suas explorações. O que encontra, contudo, é bem mais importante que quaisquer planos que tivesse e, ao decidir salvar a vida da rapariga gravemente ferida com que se depara, Nile colocar-se-á também numa posição delicada. Porque, naquele lugar remoto, são os interesses o que fala mais alto e não há lugar para inadaptados.
Há algo de perturbador na linha narrativa de todo este livro. Desde a situação em que Celeste foi abandonada a todas as circunstâncias relacionadas com a caça de animais selvagens (e, neste aspecto, há alguns detalhes particularmente macabros), passando por toda a história do passado de Nile, bem como pela estranheza que parece ser inevitável nos habitantes daquele lugar, é essencialmente entre apreensões, repulsa e perturbação que se movem as emoções associadas a este enredo. Há, por outro lado, todo um mundo interior escondido na relação entre Nile e Celeste: uma situação que começa por se constrangedora e até algo ameaçadora, mas que cresce progressivamente no sentido de uma confiança e de uma lealdade levadas até às últimas consequências.
São vários os elementos interessantes ao longo deste livro, ainda que fique a sensação de que alguns deles não tenham sido explorados em todo o seu potencial. Ao centrar-se na complicada relação de Nile com Celeste, e na sua necessidade de estabelecer um plano protector (para alguém que não deseja ser protegido), toda a situação em volta dos animais acaba por ficar para segundo plano e se há, de facto, detalhes mais que suficientes acerca do pior deste aspecto, fica, ainda assim, a vaga impressão de um assunto inacabado.
Não se trata de um livro de ritmo compulsivo. O autor demora-se na caracterização dos diferentes elementos e, mesmo naqueles que não conhecemos completamente (como os laços familiares de Nile), há muito que é dito sobre cada uma das questões abordadas neste livro. Ainda assim, há um crescendo de intensidade, impulsionado tanto pela mudança de voz narrativa (e aqui é interessante o contraste entre a necessidade redentora de Nile e a inocência devastada de Celeste) como pela força crescente da relação entre os protagonistas, uma relação com profundas insinuações de tragédia, com muito pouco de redentor nas personalidades de cada um deles e que culmina num final com muitas respostas... e uma grande questão em aberto.
Uma leitura interessante (ainda que algo exigente no que toca aos aspectos mais descritivos) e profundamente negra, onde o pior da natureza humana é amplamente explorado e a esperança é escassa... mas talvez seja, simplesmente, a possível.

Sem comentários:

Enviar um comentário