Ao longo da vida e principalmente na forma como lidamos como os outros, há uma ideia estabelecida de que devemos ser simpáticos. E, até um certo ponto, tudo bem. Mas há um limite a partir do qual a simpatia se torna prejudicial, quer porque nos torna alvos fáceis, quer porque uma incapacidade crónica de dizer não nos coloca a fazer coisas que realmente não queremos. É para evitar isto, que a autora chama de Toximpatia, que é importante descobrir a tal Cabra Secreta. E a forma de viver em sintonia deste lado da personalidade que quer viver segundo as suas próprias regras e pensar em si primeiro assenta numa ideia muito simples: dizer-se o que se quer (e isto não implica fazê-lo de forma cruel ou grosseira) e ser capaz de dizer não.
Tendo em conta o que se espera, por vezes, de um manual de auto-ajuda, basta considerar o título deste livro para ver que se trata de algo diferente. E diferente não significa automaticamente mau. Na verdade, a forma como a autora desenvolve as suas ideias, de forma simples e clara, mas também bastante divertida, é um dos grandes pontos fortes deste livro. As questões são pertinentes, as ideias da autora são muito interessantes e a forma como as desenvolve - com exemplos e evocações da sua experiência pessoal - tem muito de cativante e bastante sobre que reflectir. Mas é o tom em que o livro é escrito, com muito humor e num registo quase familiar, como que de uma amiga a dizer o que é preciso ouvir, que torna a leitura realmente cativante.
Mas passando às ideias. Uma das mensagens mais importantes que a autora pretende transmitir é que ser demasiado simpática, colocando o que os outros esperam de nós acima de nós próprias, é, provavelmente, uma escolha prejudicial. Mas o que torna este ponto de vista interessante (além da relevância da questão em si, já que demasiada dificuldade em dizer não quase sempre traz problemas) é o cuidado que a autora tem em demonstrar que superar a Toximpatia não implica passar para o extremo oposto. Várias vezes ao longo do texto a autora reforça a diferença entre a sintonia com a dita Cabra interior e uma atitude agressiva e amarga para com os outros. O ideal é, no fundo, um equilíbrio entre os dois pontos, e essa ideia é claríssima.
Ainda que, principalmente na primeira parte, a autora se debruce sobre outros aspectos da vida, grande parte do livro é dedicada às relações - e, por relações, refiro-me ao romance. Claro que, sendo estas as mais capazes de gerar complicações, é normal que sejam mais desenvolvidas. Ainda assim, fica a sensação de que mais haveria a dizer relativamente aos restantes aspectos da vida, ficando alguma curiosidade em saber o que teria a autora a dizer sobre o assunto.
Leve e cativante, escrito num tom bem-humorado e descontraído, este é um livro bem diferente dos habituais manuais de auto-ajuda. Mas é precisamente essa diferença que, associada à relevância das questões abordadas e à forma como a autora desenvolve as suas ideias, num tom agradável e sem censuras, tendo sempre em vista o melhor equilíbrio possível, que torna a leitura tão cativante. Uma boa leitura, portanto.
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