Todos os dias, Grace senta-se à entrada do seu prédio, quieta, calada, sem que ninguém saiba porquê. Vive num bairro pouco seguro, pelo que os seus vizinhos não confiam em ninguém. Mas a visão daquela criança sozinha, todos os dias, parece preocupar os que a rodeiam, por mais fechados que possam ser. De entre os que reparam, Billy é o primeiro a questionar-se e o mais improvável dos amigos. Sofre de agorafobia e não sai de casa há anos. Talvez por isso se interroga que razão justificará que Grace fique ali fora, todos os dias, perante perigos que mal pode imaginar. Mas a resposta é, afinal, muito simples. Grace precisa de ajuda e estar ali é a sua forma de o manifestar. A mãe, viciada nas suas drogas, passa mais tempo a dormir que com ela. E alguém tem de tomar conta de Grace. Caso contrário, a Assistência Social acabará por intervir, levando-a para longe.
Centrado, em grande medida, no que define as personagens e as suas experiências de vida este é um livro que vive essencialmente das emoções. Os momentos mais marcantes são os de maior intensidade emocional, com as perdas - possíveis ou reais - a definir a força desses momentos e, além disso, são também os medos e desejos das personagens o que define o enredo.
No centro de tudo está Grace, inocente e vulnerável, mas com um crescimento particularmente tocante, quer na forma como lida com as suas circunstâncias, quer no efeito que exerce sobre os que a rodeiam. E, partindo dela, também os seus vizinhos mudam, tornando-se um pouco melhores e mais próximos devido à criança que justifica a sua crescente união. De um conjunto de vizinhos isolados, tendo como máximo exemplo Billy, surge um espírito de comunidade, e a forma como a autora constrói esta evolução, partindo de uma única situação que é a de uma criança em apuros, cria, na empatia que desperta para com as suas personagens, uma boa base para que os momentos mais comoventes fiquem na memória.
A história é contada essencialmente dos pontos de vista de Grace e Billy, sendo com estes que se cria a impressão de uma maior proximidade. Ainda assim, há em quase todas as personagens algo de tocante, desde a senhora aparentemente antipática, mas que se preocupa, afinal, ao homem mau e cheio de preconceitos que é capaz de alguns gestos de ternura. Todos os elementos do grupo de vizinhos têm algo que os diferencia, em temperamento e em fantasmas do passado, e isto torna a sua união um pouco mais tocante. Além disso, nem tudo é simples e sereno, levando a que a história tenha tanto momentos tensos e tristes, como situações divertidas e enternecedoras. As emoções que desperta são, em suma, tão diversas como as personalidades que protagonizam a história.
Mas nem todas as relações têm a mesma força da que Grace tem com os vizinhos e nem todas as personagens despertam a mesma empatia. Neste aspecto, fica alguma estranheza quanto ao papel desempenhado pela mãe de Grace. Isto deve-se, em parte, à questão do vício, é claro, e muitas das suas acções pretendem realçar as consequências desse vício. Mas, talvez por raramente ser referido o ponto de vista de Eileen, a impressão que passa é, muitas vezes, de indiferença, acabando por ser o laço entre mãe e filha o que menos se destaca.
Ficam também algumas perguntas sem resposta - ou com respostas vagas - relativamente aos vizinhos de Grace. Estas não são, ainda assim, essenciais à evolução do enredo, pelo que, mesmo deixando uma certa vontade em saber mais, estes pequenos mistérios não prejudicam a leitura.
Comovente e enternecedor, nos melhores momentos, e com um enredo cativante, Não Deixes que me Levem conta, no fundo, uma história de superação: da capacidade de vencer os próprios medos e da união para superar circunstâncias difíceis. Uma história que, mesmo sem dar todas as respostas, consegue ser, nos momentos certos, tocante e divertida, recordando, ao mesmo tempo, a importância dos afectos. Uma boa leitura, portanto. Gostei.
Gostei do que li da tua opinião. Fiquei curiosa e com muita vontade de ler o livro :)
ResponderEliminarOlha, tenho só uma questão em, relação ao layout do teu blog. Gosto muito de o visitar, mas tenho um bocado de dificuldade em ler as tuas opiniões, o fundo escuro e a letra branca atrofiam um bocado os olhos. Não haveria maneira de mudares essa situação para melhor, mantendo na mesma os teus gostos? Espero que compreendas, não é uma crítica, apenas um pedido para poder ler o teu blog com maior facilidade...
Obrigada.
Beijinho
Hmmmm. Já fiz algumas experiências - não sei se já me lias nessa altura, mas antes era preto com letra vermelha - e, quando mudei, esta combinação foi a melhor que encontrei dentro do esquema que quero para o blogue. Mas isto não quer dizer que não venha a mudar, se me surgir uma ideia que me agrade. Vou ter a tua sugestão em conta.
ResponderEliminarSim, já lia o teu blog na altura. Penso que foi uma grande melhoria, essa mudança de cores, é só pena que mesmo esta não seja a ideal para os olhos. Obrigada por entenderes.
EliminarBeijinho