Tem como título Guia Prático do Corrupto, mas não é difícil perceber que este livro é exactamente o contrário. Muito breve e escrito de forma directa, retrata, com uma ironia devastadora, os traços gerais desse tal ente - o Corrupto - e do sistema que o torna soberano. Tudo numa abordagem muito sucinta, mas certeira em tudo o que refere, o que, além de proporcionar uma leitura agradável e divertida, evoca também questões muito sérias, apelando à reflexão.
Construído como um conjunto de regras e características, todas elas desenvolvidas em menos de uma página, parece haver alguma aproximação ao tipo de estrutura expectável de um guia prático. Esta é uma opção que reforça, desde logo, o sentido de ironia presente em todo o livro, já que, mesmo sendo muito claro o objectivo do livro, é possível reconhecer nas linhas gerais do livro esse possível guia para a compreensão do corrupto. Realça, também, o impacto de cada questão, já que, ao resumir cada ponto em poucas e directas palavras, o autor faz com que seja o verdadeiramente importante a sobressair.
Mas falemos dessas questões, que são, afinal, o essencial do livro. A intervenção (ou falta de) da justiça, as justificações do corrupto e a real credibilidade, a tolerância para com o que não se sabe, ou, por instinto de preservação não se quer saber... Cada um dos pontos levanta uma questão relevante, abordando-a de forma certeira. No que refere, no que questiona e no panorama global que retrata, este é um livro que, tendo em conta as circunstâncias do presente, não poderia ser mais actual.
Este é, por isso, um livro de simplicidade aparente, curto, directo na escrita e na formulação das ideias, e com algo de humor a reforçar a ironia. Mas a complexidade está lá, nas muitas questões relevantes que coloca e na análise certeira - independentemente da brevidade - de uma realidade com muito de perturbador. Cativante e agradável de ler, mas, acima de tudo, pertinente na abordagem à realidade actual, vale, sem dúvida, a pena ler este livro.
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