quinta-feira, 18 de julho de 2013

O Palácio da Meia-Noite (Carlos Ruiz Zafón)

Dezasseis anos passaram desde que, para os proteger do perigo, a avó de Ben e Sheere os separou. Ben cresceu num orfanato, enquanto Sheere acompanhou a avó numa vida de fuga constante. Mas, agora, eles já não são crianças e o momento em que os seus caminhos se cruzam, novamente em Calcutá, é também a hora em que o seu perigoso perseguidor volta a surgir. É imperioso encontrar respostas. Felizmente, Ben e Sheere contam com amigos dispostos a muito para os ajudar na busca. Mas a história que lhes foi contada está incompleta e o seu perseguidor não é apenas um criminoso, mas algo de bem mais complexo e inexplicável.
Um dos aspectos mais fascinantes nos livros deste autor é o seu estilo de escrita. E, mesmo não sendo este um livro tão complexo como os do Cemitério dos Livros Esquecidos, é fácil reconhecer os traços desse mesmo estilo. Nos laivos de introspecção, nos ocasionais toques de poesia, na inegável mestria em evocar ambientes sombrios com um tal pormenor que os torna quase palpáveis, toda a beleza que caracteriza a escrita deste autor está aqui plenamente presente. E isso é desde logo o que faz com que, mesmo contendo uma história bem mais simples, este livro nunca deixe de ser fascinante.
Esta é uma história mais curta, e, como tal, o desenvolvimento das personagens é menos aprofundado. A história centra-se mais na aventura e no mistério, e no muito que estes elementos têm para dar. Ainda assim, o que é dito sobre as personagens é mais que suficiente e no que caracteriza a natureza de Ben e Sheere, tanto como nas relações e afectos que estes mantêm com os seus amigos, estão presentes o ímpeto e a magia da juventude, a firmeza e a lealdade das amizades puras, a convicção de que tudo é possível, mesmo em situações sombrias. Há também uma certa melancolia, natural, tendo em conta as circunstâncias das personagens, mas a quase inocência da juventude das personagens, associada à inesperada força das suas convicções, torna impressionante o percurso dos jovens protagonistas deste livro.
Há ainda o mistério e o sobrenatural, e aqui se revela outro dos pontos fortes deste livro. A natureza e as acções do misterioso perseguidor, associadas aos elementos da sua história que, progressivamente, vão sendo revelados, tornam, desde logo, intrigante toda a situação. Mas nem mesmo aí as coisas são o que parecem e há novas revelações a acontecer e novas descobertas a fazer. E a forma como cada uma delas muda o rumo dos acontecimentos - e também a percepção do passado - torna todo o enredo ainda mais interessante.
Este é, pois, um livro que, conjugando a visão quase inocente da juventude com o inevitável lado sombrio de um inimigo sobrenatural, cativa e intriga desde as primeiras páginas, e que fica na memória tanto pelas revelações surpreendentes e pela beleza da escrita como pelo afecto genuíno que o autor constrói para as suas personagens. Muito bom, portanto. Recomendo.

1 comentário:

  1. Tenho a edição espanhola deste para ler e ainda não consegui tempo para pegar nele :(

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