terça-feira, 30 de julho de 2013

Que Monstros Fabricamos? (David Almond)

Davie e Geordie são dois rapazes normais na aldeia onde vivem. Ajudam o padre nas missas, confessam-se e, assim que viram costas, dedicam-se às pequenas maldades típicas da sua idade. No fundo, são tão inocentes como quaisquer outros rapazes. Mas tudo muda com a chega do estranho Stephen Rose, um rapaz de modos reservados e comportamentos peculiares que parece ter um interesse particular em Davie. Quase sem querer, também Davie se sente fascinado, principalmente a partir do momento em que vê as figuras que Stephen constrói no barro. O problema é que o seu novo amigo tem um lado negro e algumas capacidades peculiares e a ideia de criar vida a partir do barro pode trazer consequências indesejadas.
Com protagonistas jovens e dirigido a um público jovem, este livro é, no essencial, uma história relativamente simples, não sendo difícil de prever, em linhas básicas, o rumo dos acontecimentos centrais. Ainda assim, muito de interessante surge desta história, que a escrita simples e directa torna envolvente e a que os acontecimentos e as personagens dão uma vida particular.
A história é narrada pela voz de Davie, daí que tudo seja visto do seu ponto de vista. Tendo isto em conta, é inevitável que haja elementos da história que ficam por desenvolver, principalmente no que acontece a Stephen para lá da sua relação com Davie. Ainda assim, este tipo de narração tem também um lado positivo e este é o dar uma perspectiva mais próxima a todo o enredo. É fácil entrar no mundo de Davie, sentir os seus medos e a sua confusão. E, à medida que a história se torna mais intensa e mais sombria, também são mais fortes as emoções que transmite.
Um outro aspecto interessante é que, mesmo sendo a história centrada no enredo, sem grandes reflexões, há várias questões que se insinuam nos pensamentos do protagonista - e, em consequência, nos do leitor. A existência ou não de um deus e dos anjos e, por oposição, da maldade pura, levantam, desde logo, questões sobre os limites entre o bem e o mal. E, ao abordar estas questões do ponto de vista de um rapaz de 14 anos, o autor acrescenta-lhe uma certa inocência que, confrontada com o lado mais sombrio do enredo, acaba por se revelar particularmente tocante.
Com um enredo bastante simples, mas com muito de fascinante nas pequenas coisas, este é, assim, um livro envolvente, com uma boa história e personagens cativantes. Uma boa surpresa, portanto, e uma boa leitura.

Sem comentários:

Enviar um comentário