sábado, 10 de outubro de 2020

Falar em Público (Ana Andrade)

Há quem tenha mais medo de falar em público do que da própria morte, mas, mesmo pondo de parte os casos mais extremos, todos - ou quase - todos sentimos um certo nervoso miudinho ante a perspectiva de falar para uma plateia. A verdade, no entanto, é que, a não ser que vivamos em regime de isolamento (tempos de pandemia, à parte), todos falamos, em certa medida, em público. Com familiares, amigos, colegas de trabalho... e isso não nos assusta, pois não? Bem, eis um ponto de partida. E, a partir daí, importam sobretudo a prática e ter bem presentes as características que definem um orador... nunca esquecendo, contudo, que não existem fórmulas universais.
Partamos deste ponto: não existem fórmulas universais... até porque, se existissem, todos seríamos magníficos oradores. Este simples facto é algo que não só está presente em todo o livro como fundamenta a sua característica essencial, ou antes, aquilo que não é. Não é um livro de dicas fáceis e muito menos de soluções milagrosas, chegando mesmo a surpreender pela profundidade com que aborda não só os recursos, mas a própria história da arte da retórica. E, assim, não vamos chegar ao fim deste livro com todo o conhecimento necessário para convencermos o mundo inteiro da nossa mensagem. Não, mas é um ponto de partida. O resto virá da prática, do aprofundar de conhecimentos... e, bem, das nossas características individuais.
Não é - nem pretende ser - um livro milagroso, mas é muitíssimo interessante, não só pela utilidade das perspectivas que apresenta, mas também pela forma como as complementa com um bem desenvolvido, ainda que conciso quanto baste, contexto histórico e filosófico. Às origens da retórica e a sua reputação nem sempre boa, junta-se o percurso individual de vários oradores, natos ou construídos e um conjunto de perspectivas e classificações sobre esta tão importante arte. E quanto ao medo... Pode não conseguir afastá-lo, mas dá-lhe outra perspectiva. Até porque o tal nervoso miudinho pode funcionar como estímulo a uma melhor preparação.
Sendo um livro dedicado à forma de exprimir de uma mensagem, sobressai ainda a forma de expressão da autora. Ainda que um texto escrito não seja uma palestra, é curiosa a sensação que, ao longo da leitura, vai surgindo de que a autora está praticamente a falar connosco. Em parte devido à fluidez, em parte devido ao delicioso sentido de humor, é quase como se pudéssemos ouvi-la, o que torna também a mensagem mais clara.
Útil, interessante e muito agradável, trata-se, pois, de um belo guia para enfrentarmos o medo do público e, sobretudo, aprendermos a falar melhor. Não precisa de ser para uma grande audiência, pois, sem grandes revoluções ou milagres, as ideias extraídas deste livro podem também ser-nos muito úteis na comunicação de todos os dias. E é exactamente isso que se espera, certo?

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