terça-feira, 6 de outubro de 2020

O Homem que Matou Lucky Luke (Matthieu Bonhomme)

Mais rápido do que a própria sombra e sempre do lado da justiça, Lucky Luke construiu uma reputação tão poderosa que o segue para onde quer que vá. O que pode nem sempre ser positivo. Ao passar por Froggy Town, vê-se envolvido na investigação ao assalto a uma diligência, alegadamente realizado por um índio. A verdade, contudo, é outra. E, ao criar atritos com os irmãos que parecem dominar a cidade, Luke pode muito bem estar a pôr a vida em risco. Afinal, a sorte não dura para sempre...
Há histórias e personagens que, ou porque crescemos com elas e nos levam de volta a tempos mais simples, ou porque ressoam, às vezes inexplicavelmente, dentro de nós, se tornam intemporais. Lucky Luke é uma dessas personagens. Até quem, como eu, nunca leu os livros, reconhece a personagem da televisão. E, assim, a primeira impressão que fica ao mergulhar nesta aventura é a de um regresso a um mundo já conhecido.
Sendo uma figura tão conhecida, outro aspecto inevitável é a comparação entre o Luke deste livro e o que já vimos noutras andanças. Importa, por isso, destacar o texto final, que explora um pouco esta perspectiva e salienta algumas particularidades sumamente intrigantes, como o uso das cores planas em certos momentos. Não é algo que chame logo a atenção ao longo da leitura, talvez porque a história absorve toda a atenção, mas não deixa de ser ainda um ponto interessante e um elemento peculiar a salientar.
E quanto à história... Bem, tendo em conta o título, dificilmente poderia ser mais intrigante. Mas há, acima de tudo, dois aspectos a destacar. Primeiro, a forma como, num enredo que é tipicamente o de um western, incluindo crimes, tiros e a iminência de um duelo, surgem também elementos inesperados como a difícil relação de Luke com o tabaco e a surpreendente dinâmica familiar dos Bone. E, em segundo lugar, a também surpreendente ambiguidade moral resultante dessa mesma dinâmica. Não deixa de ser a justiça a reinar, mas há algo de inesperadamente profundo - ainda que também com a dose certa de humor - na forma como a situação dos Bone se desenvolve.
Parte regresso à infância, parte revelação, trata-se, acima de tudo, de uma aventura empolgante, surpreendente e com inesperados matizes de ambiguidade - ainda que com os valores sempre no sítio certo. E, independentemente do título, independentemente da história... é também uma belíssima confirmação de um facto. Para quem o conhece, Lucky Luke é imortal.

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