sábado, 24 de outubro de 2020

Frank e o Amor (David Yoon)

Frank Li tem dois nomes, e às vezes chega mesmo a sentir que tem duas vidas. Uma é a sua vida normal de rapaz americano, no último ano do secundário e prestes a entrar numa boa universidade. Outra é das expectativas da sua ascendência coreana. Todos esperam que ele saiba tudo sobre a cultura, mas Frank nem sequer fala coreano. E sabe que a sua família espera que não siga o rumo da irmã mais velha e opte por namorar com uma boa rapariga coreana. Ora, acontece que o coração de Frank tem outros planos e é por isso que se alia a Joy, uma amiga da família, a fim de fingirem ser namorados e poderem encontrar-se com os seus verdadeiros amados - que, obviamente, não são coreanos. Só que... as coisas não são assim tão simples, e o namoro a fingir começa a tornar-se perigosamente sério.
Provavelmente o aspecto mais marcante deste livro é a capacidade de abordar temas muito sérios sem nunca perder a leveza, mas também sem nunca dar a impressão de que tudo é fácil. Questões como o isolamento das comunidades, e algum consequente racismo, são factores bem evidentes na vida de Frank e condicionam muitas das suas decisões. Junte-se a isto o peso da doença e da mortalidade, bem como a percepção de que tudo na vida - incluindo o amor - é passageiro, e o resultado é uma carga emocional surpreendentemente forte, aligeirada pela leveza e pelo humor que o autor confere à voz de Frank, mas sem lhe retirar nenhum do seu impacto.
É, aliás, um contraste poderoso o que nasce da contraposição entre estes temas fortes e o espírito de aventura que, de certa forma, está também bem vivo nesta história. Afinal, é o último ano do secundário, um ponto de viragem na vida de Frank e dos seus amigos. E, temas profundos à parte, também as relações de amizade, a paixão das pequenas coisas e a interacção naturalmente divertida entre as várias personagens tem o seu lado marcante. Leveza e profundidade - e completam-se tão bem.
E, claro, há amor e descoberta, com todas as ambiguidades e imperfeições que isso implica. Há os momentos dramáticos e os de cumplicidade natural, as escolhas impossíveis e a sensação de que o mundo acabou... até ao dia seguinte. É amor jovem em toda a sua glória, e é interessante notar que, mesmo nos momentos em que as decisões das personagens parecem ligeiramente incompreensíveis, também isso acaba por fazer sentido.
Leve quanto baste e, ao mesmo tempo, surpreendentemente profundo, trata-se, pois, de uma história de amor juvenil com temas sérios em fundo. Cativante, divertido e - nos momentos certos - emotivo, um livro que prende do início ao fim. E que fica na memória bem depois disso.

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