Está Tudo na Cabeça (Alastair Campbell)

Martin Sturrock, psiquiatra há mais de quarenta anos, tem no seu historial toda uma diversidade de doentes, desde a mulher desfigurada por um incêndio ao importante ministro com problemas de alcoolismo e passando pela refugiada kosovar vítima de violação e pelo homem com momentos de profunda depressão. O que nenhum de entre eles sabe é que, enquanto Sturrock os guia na forma de enfrentar os seus problemas, é a sua própria vida que decai progressivamente, avançando cada vez mais nos mares da perturbação.

Com uma escrita bastante acessível, sem floreados ou descrições demasiado extensas, mas evitando a excessiva simplificação, neste livro o autor mergulha directamente nos mais secretos demónios interiores, nas diversas perturbações da mente e na forma como podem alterar as vidas dos que delas sofrem. Reflectindo bem, e em particular no caso do ministro Ralph Hall, a forma como um pequeno problema se torna um abismo e o reflexo desta situação na sociedade, aquilo que o autor melhor representa é a evolução relativa - dentro da mente de cada paciente -dos respectivos problemas.

Não sendo de leitura compulsiva, principalmente devido à fase inicial onde as consultas extensas contextualizam cada caso, contém, ao longo do enredo, uma série de pequenos momentos que, na sua profundidade, se tornam marcantes. E quando o autor ameaça resvalar para um final demasiado optimista e possivelmente irreal, surpreende com a forma como culmina o percurso inverso do psiquiatra e dos seus pacientes, entre ascensão e queda, vazio e redenção.

Fortemente centrado nos elementos psicológicos, este é um livro onde, para cada um dos casos que constituem a vida de Sturrock, não temos uma ficha clínica, mas a imagem e a mente de uma pessoa. E foi este lado profundamente humano, mesmo nos mais negros pontos da mente, que me fez apreciar tanto esta leitura. Muito bom.