segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Casa de São Cláudio (Paulo Leme)

Cenário de conversas familiares e de tragédias causadas, talvez, por distracção, a Casa de São Cláudio é também o refúgio de Saulo e o foco dos seus planos e projectos. Através do tempo, permanece, apesar das dificuldades, graças aos esforços dos que nela vivem e trabalham. Mas é também um pretexto para recordações e explicações - de planos e de processos, tanto como de crenças e de ideias. Esta história é, pois, mais a de um lugar que a de um homem. Desse, apenas partes são dadas a conhecer.
Os pontos mais positivos deste livro resumem-se em dois aspectos: uma ideia base com algum potencial e a exposição de muita informação interessante sobre temas tão diferentes como a produção agrícola e a astronomia. A ideia de caracterizar a vida rural através do quotidiano de uma quinta abre muitas possibilidades a explorar, tanto a nível das rotinas e das dificuldades da produção como no que respeita ao contexto político e social ao longo do tempo, o que criaria, desde logo, um cenário interessante para a história dos protagonistas. Além disso, a tal informação sobre métodos e complicações - e até mesmo as conversas sobre assuntos que nada parecem ter a ver - poderiam acrescentar ainda outros pontos de interesse ao rumo da narrativa.
Infelizmente, a concretização fica aquém das expectativas. Em termos formais, não há nada a apontar, no que diz respeito à escrita, mas a narração nunca chega a cativar. Primeiro, devido às longas exposições de informação, primeiro através de diálogos bastante forçados, depois nas longas divagações das personagens. Depois, devido à dispersão com que as ideias são apresentadas. Não há uma linha temporal definida e as personagens parecem divagar entre diferentes épocas, sem uma razão que explique essas mudanças temporais. Além disso, ainda que Saulo pareça ser o protagonista, nem ele tem uma história completamente definida. Os projectos que surgem no início parecem desaparecer sem que o seu avanço seja apresentado ao leitor e o mesmo acontece com as experiências do seu passado. Além disso, parte da informação desenvolvida não tem assim tanta relevância para a possível história do suposto protagonista, servindo apenas - e por mais interessante que possa ser - para gerar mais confusão.
A impressão que fica deste livro é, portanto, a de uma boa ideia que podia ter sido muito mais, mas que, entre as longas dissertações sobre os mais diversos temas, a divagação entre diferentes épocas e diferentes personagens e o pouco desenvolvimento das ditas personagens e dos acontecimentos que as afectam, acaba por se dispersar por demasiados aspectos. A história do protagonista, essa, quase se perde entre tudo isto. E é isso o que realmente falha neste livro.

1 comentário:

  1. CARA Senhora Dona Carla Ribeiro

    Sou o autor da Obra e agradeço a sua Crítica que considero positiva.
    Concordo com muitas coisas que diz a respeito dela e houve sem duvida precipitação em a publicar.
    Esta obra merece sem duvida uma nova génese na sua criação, com um maior enfoque em atividades tipicamente agrícolas para caraterizar mais os personagens envolvidos e ao mesmo tempo a historia do protagonista principal, Saulo e a Casa de S.Cláudio caminharem no sentido dum desfecho que mostre as virtudes dos empresarios agrícolas minhotos que lutam por condições de vida melhores e que, apesar das grandes tragédias e dificuldades por que passam, acabam por alcançar. A poesia sempre fez parte do meu imaginario pessoal e do nosso povo, e por isso achei por bem introduzi-la, mesmo naõ sendo minha, para tornar mais bela a história.
    A Mulher também tem um papel muito importante na obra e vê-se isso nas poesias e no dialogo entre a Dona Maria do carmo e o seu cunhado Doutor Manuel dos Reis.
    O capitulo sétimo e ultimo no meu entender é o que provoca uma descontinuidade no fio condutor da obra, pois ha sem duvida um fio condutor mas que teve um retrocesso pois havia a necessidade de falar do tempo e do espaço. Aqui devia haver um artificio, imamgine que um dos personagens no seguimento da sua vida, resolve lembrar os tempos da juventude , como no terceiro capitulo, e depois desenvolve-lo ate aos tempos atuais.
    Assim entendia-se melhor toda a ligação entre as diversas partes da obra.
    Pelo que li no seu blogue é uma poetisa e desejo que venha a ser uma grande poeta portuguesa na esteira dos grandes poetas lusos.
    Os meus melhores cumprimentos e obrigado pela sua análise.
    Paulo Costa Leme

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