quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Crónica de uma Travessia (Luís Cardoso)

Retrato de um indivíduo no seu tempo, este livro conta a história de um narrador/protagonista ao longo de toda a sua vida, desde a infância em Timor ao exílio em Portugal, percorrendo todas as experiências e mudanças desse percurso de vida. Conta também a história das mudanças operadas pelo tempo e pelos homens, com os conflitos a surgirem também como factor essencial dessa mesma mudança. Cruza-se, assim, a história do homem com a do lugar, realçando tanto a relação entre ambos como o quebrar das raízes provocado pelo conflito.
O mais interessante neste livro está na apresentação dos vários aspectos que constituem a cultura timorense. Vistos do ponto de vista de um narrador que é, ao mesmo tempo, o centro da história que conta, estes elementos adquirem uma maior nitidez, mesmo quando narrados em tom de divagação. Além disso, as mudanças em consequência do conflito fazem surgir alguns nomes facilmente reconhecíveis, que, ligados às memórias do protagonista, acabam por tornar mais fácil a assimilação dos factos menos familiares.
A escrita é também fluída e agradável. Ainda assim, e tendo em conta que este é um livro relativamente pequeno, fica a impressão de um excesso de descrição que se associa à exposição dos diferentes temas e elementos do contexto, tudo feito ao ritmo do pensamento. Isto faz com que o rumo da narrativa se torne, por vezes, bastante confuso. Além disso, é difícil sentir empatia ou curiosidade para com o protagonista, já que a narração é essencialmente dos acontecimentos em volta, não havendo uma verdadeira caracterização da sua personalidade. Toda a história decorre, assim, numa aparente distância, havendo, por isso, curiosidade em conhecer o contexto histórico e as circunstâncias da vida do protagonista, mas nunca uma verdadeira preocupação com o seu percurso.
A impressão que fica deste livro é, portanto, a de um relato bem escrito e bastante interessante a nível de contexto histórico, mas a que falta a proximidade e a envolvência capazes de o tornar verdadeiramente cativante. Não deixa de ser, por isso, uma leitura interessante. Mas fica sempre a sensação de que falta qualquer coisa...

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