sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Trëma


Estreia de um projecto ambicioso - como evidencia o breve, mas objectivo Editorial - este primeiro volume da Trëma promete vários conteúdos interessantes. E cumpre. Relativamente breve, mas diversificado em conteúdos, esta pequena antologia tem muito de bom para descobrir. E é essa diversidade o seu grande trunfo. Mas vamos por partes.
Depois do já referido editorial e de uma breve nota sobre o artista de capa, em que, mesmo sentindo a falta da cor para apreciar completamente as ilustrações, é fácil reconhecer beleza e qualidade no trabalho, surge um primeiro conto. Em O Vigésimo Oitavo Dia, de Maria Amaral Ribeiro, círculos traçados numa árvore e uma percepção algo diferente das mudanças do corpo feminino servem de base a um conto pausado e descritivo, mas que cativa pelo retrato muito próximo de uma forma de vida comum a tempos ou lugares não muito distantes.
Em Sobre a Trëma, e sobre escritores e edição, Rogério Ribeiro parte da criação deste projecto para uma análise sucinta, mas que toca vários pontos pertinentes, de muitas das questões essenciais da publicação. O tema é praticamente inesgotável, tal como o são as opiniões sobre o assunto, mas a perspectiva apresentada é bastante esclarecedora. E, ainda no mesmo contexto, surge Como caçar uma vanity press, de Ana Ferreira, um texto que, apesar de bastante breve (também sobre este tema haveria muito para dizer), toca, sem dúvida, os pontos essenciais.
O Cais do Poeta, de Carina R. Portugal, conta a história de um mendigo e dos seus amigos poetas. Bastante descritivo, mas com uma escrita poética, cativa pelo retrato impressionante do quotidiano do mendigo e da sua relação enternecedora com os tais poetas. Melancólica, mas de uma beleza envolvente e com um final marcante, uma história comovente.
Espaços virtuais, espaços pictóricos, espaços ficcionais, de Artur Coelho, apresenta uma interessante perspectiva das técnicas de criação de mundos imaginários nas artes visuais, através do tempo e considerando relações com algumas obras de ficção científica. Relativamente breve, mas bastante esclarecedor, fica, apenas, a impressão de que parte da relação entre texto e imagens se perde por estas serem pequenas e a preto e branco.
Segue-se A bela adormecida do Mosela, de Rui Ângelo Araújo, história de como os planos do protagonista para uma boa bebedeira dão lugar a uma série de acontecimentos estranhos. Improvável nos acontecimentos e com um toque de surreal na forma como o ambiente se altera, trata-se, ainda assim, de um conto estranhamente cativante, quer pela peculiaridade da situação, quer pela escrita fluída e agradável.
O Sofisma da "Ficção de Género", de João Campos, aborda uma outra questão inesgotável e sempre pertinente: a tendência para menorizar géneros literários. Um artigo fundamentado, bem escrito e que resume de forma brilhante as questões essenciais desta discussão.
Na Crista da Onda, de Luís Filipe Silva, apresenta uma aventura espacial particularmente perigosa. Bem escrito e interessante, trata-se, também, de uma boa história, ainda que fique a ideia de que mais poderia ser dado a conhecer sobre as personagens, para lá da situação em que se envolveram.
Segue-se a Entrevista a Ivor Hartmann, que, curiosamente, não segue o expectável formato de pergunta e resposta, não deixando por isso de ser muito interessante na apresentação que faz dos projectos, e também das ideias, do entrevistado.
Por último, surge a crítica de Andreia Torres, ao livro Margarita e o Mestre, numa visão sucinta e esclarecedora, capaz de despertar a curiosidade de quem (como eu) ainda não teve a oportunidade de ler o livro.
Tudo somado, a ideia que fica é a de um projecto promissor, com conteúdos interessantes, tanto a nível de contos como de artigos. A nível visual, a letra pequena dificulta um pouco a leitura, é certo, mas nada que o conteúdo não compense. Uma boa estreia, portanto, e um projecto a seguir.

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