sábado, 27 de abril de 2013

A Linguagem é a Minha Pátria (Jorge Semprún)

Cinco entrevistas, em jeito de conversa entre amigos, percorrem os aspectos essenciais da vida de um homem que foi espanhol e francês, um pouco de ambos e, por vezes, nenhum, mas acima de tudo, ex-deportado de Buchenwald. Clandestino, escritor, argumentista e, durante um breve período, até ministro. Nestas entrevistas, vislumbra-se a vida do homem pelos seus próprios olhos, a sua história, a sua visão da obra que deixa e os valores e ideais em que acredita. E, em tudo isto, há muito em que pensar.
Ao partir para esta leitura, é preciso ter em conta que não se trata de uma biografia. Não propriamente. É possível reconhecer partes do percurso do autor nos temas abordados ao longo das suas conversas, mas não há propriamente uma linha temporal precisa e há acontecimentos e experiências referidas apenas de forma vaga. Não é possível, por isso, conhecer por completo, a partir deste livro, a história de Semprún, sendo mais importantes os seus pontos de vista e as experiências que definiram o seu percurso e a sua obra.
Considerando o livro pelo que é - um conjunto de entrevistas, e não uma biografia detalhada - é possível apreciar o muito de interessante que tem para apresentar. Desde logo, sobressai o tom pessoal, resultante do facto de as entrevistas serem realizadas por um amigo, mas com uma relativa ambiguidade, reservando elementos mais privados. Se, por um lado, este registo deixa por abordar algumas questões, por outro, permite conhecer as visões e ideais do autor pela sua própria voz. E há tanto de fascinante nas ideias desenvolvidas, sejam elas sobre a escrita, sobre a sociedade ou sobre a experiência do passado, que é impossível não ficar a pensar sobre as muitas questões abordadas.
Um outro aspecto que sobressai desta leitura é que, mesmo não conhecendo a obra de Jorge Semprún, é possível acompanhar a sua visão da escrita em geral, e da sua obra em particular. Fica, aliás, deste retrato pessoal do autor e do homem, a vontade em conhecer essa mesma obra, tão marcada - como o autor indica - pela sua própria vida. E é também isso que cativa neste livro: que o retrato do homem e do escritor seja tão interessante que, mesmo sem conhecer ainda a sua obra, haja tanto de admirável para descobrir nos seus pontos de vista.
Relativamente breve e construído num registo agradavelmente intimista, este conjunto de entrevistas pode não traçar o retrato global do entrevistado, mas mostra, sem dúvida, o essencial. E isso, aliado ao muito de importante que há no seu percurso e nas questões que sugere, é mais que suficiente para fazer com esta leitura valha a pena.

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