domingo, 28 de agosto de 2016

Filipa de Lencastre (Isabel Stilwell)

Casou tarde para os padrões da época, mas viria a ser a mãe da que ficaria conhecida como Ínclita Geração. Piedosa, séria, decidida a conter as emoções a todo o custo, muitos a julgariam como fria e indiferente. Mas não. Primogénita de John of Gaunt e destinada a grandes voos, viria a mudar a corte para onde se mudou como rainha, deixando às gerações futuras um legado de grandes obras e de novos costumes. Esta é a sua história.
Centrado, acima de tudo, na vida da sua protagonista e dividido nas duas partes essenciais do seu percurso - a de filha de John of Gaunt e a de rainha de Portugal - este é um livro em que o contexto e a forma são tão importantes como os acontecimentos em si. O contexto, porque os hábitos da época em que a narrativa decorre definem em muito a forma como Filipa rege a sua vida e as diferenças entre Inglaterra e Portugal são também uma influência essencial nas mudanças por ela operadas. A forma, porque são tantas as personagens relevantes que é importante a perspectiva pessoal, seja das dores contidas ou dos grandes entusiasmos, para contrapor à distância das movimentações políticas e intrigas de corte. 
Há, assim, um aspecto que sobressai: a capacidade da autora de realçar o retrato de uma mulher complexa e humana, ao mesmo tempo que enfatiza o seu papel enquanto rainha. As obras, os hábitos, a intriga palaciana convivem de perto com as saudades da família, a dor da perda de um filho e as aspirações e medos que tem por todos os outros. Há, assim, diferentes impactos para diferentes momentos. Curiosidade, sobre os elementos de política do reino (guerras, negociações, casamentos...), emoção, nos momentos de grande alegria ou grande perda, surpresa, ante a ocasional revelação inesperada e até um leve toque de humor, muitas vezes protagonizado pelos mais novos. E a soma de tudo é uma narrativa equilibrada, não propriamente de leitura compulsiva (ou não fosse tão vasta e relevante a componente descritiva), mas que nunca deixa de cativar.
Claro que, sendo Filipa a protagonista, é inevitável que algumas das outras personagens acabem por passar para segundo plano. E é aqui que fica uma certa curiosidade insatisfeita, pois é sabido que a história continua e fica sempre a vontade de saber mais sobre os outros intervenientes da narrativa. Mas também é certo que faz todo o sentido que, num livro sobre a vida da rainha, a história termine precisamente no ponto em que termina. E, quanto ao resto, há sempre outras formas de saber mais.
Muito interessante e sempre cativante, eis, pois, uma boa viagem à História de Portugal. E também à história de uma mulher que foi rainha e mãe sem nunca perder nada das raízes que a definiam. Uma boa leitura, portanto. Gostei.

Título: Filipa de Lencastre
Autora: Isabel Stilwell
Origem: Recebido para crítica

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