quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Viver Depois de Ti (Jojo Moyes)

Lou Clark está habituada a uma vida calma e completamente livre de aventuras. Está com o namorado há sete anos, vive com os pais e a irmã, contribuindo para o sustento da família, e nunca saiu da vila onde sempre viveu. Mas tudo muda quando, de um dia para o outro, fica sem emprego e se vê obrigada a aceitar uma vaga de prestadora de cuidados. Aí, conhece Will Traynor, o seu novo patrão. Um acidente de mota deixou-o tetraplégico e precisa de ajuda até para as coisas mais simples. Perdeu a alegria e a infelicidade tornou-o cruel. Já Lou, apesar da simplicidade da sua vida, transborda de energia. Mas será a sua boa influência o suficiente para devolver a Will a vontade de viver? E não terá ele também algo de valioso a ensinar a Lou?
Uma das características mais interessantes deste livro é a forma como a autora, partindo de um início aparentemente leve e até um pouco caricato, cria, desde muito cedo, um ambiente cativante, para depois ir aprofundado, ao mesmo tempo, o tema e as questões emocionais associadas à história. Sendo Will tetraplégico, há todo um conjunto de elementos pertinentes na sua história: as dificuldades, a forma como a sociedade lida com a condição, a dependência total e a liberdade - e necessidade - de escolha. E, claro, o direito a uma vida digna - ou nenhuma vida. A forma como a autora aborda estas questões, numa história em que é sempre a relação entre os protagonistas o foco central, mas em que tudo o resto vai sendo vincado por via da acção, torna a história não só envolvente, mas muitíssimo relevante. Faz pensar. Faz questionar. E, na fortíssima fase final, que, não sendo propriamente imprevisível, é, ainda assim, devastadora, grava na memória uma nova perspectiva sobre o que é a vida e o que ela vale realmente.
Além de um cerne fortíssimo para todas estas questões, Will é também a personagem mais marcante de toda esta história. Intenso, sarcástico, com um sentido de humor fascinante e uma percepção da vida em todos os seus tons de cinzento, é uma personagem que vive muito para lá das suas circunstâncias. É interessante a forma como facilmente se torna admirável, na forma como influencia a vida de Lou, na sua maneira de lidar com as coisas (desde a mais pequena discussão à mais importante de todas as decisões), na sua própria personalidade. E é também o contraponto perfeito para Lou, em tudo (ou quase) oposto, mas em tudo complementar.
O que me leva às outras personagens. É certo que, nesta história, ninguém é perfeito e é precisamente isso que os humaniza. Mas há personagens (principalmente no que diz respeito ao lado de Lou) em que não são propriamente as qualidades a sobressair. Ora, curiosamente, isto não tira nada à envolvência da história. Pelo contrário. Desperta sentimentos mais fortes de empatia para com os protagonistas, seja por uma certa sensação de injustiça para com eles, seja pela forma como fazem sobressair as suas melhores qualidades. No fim, são Will e Lou quem mais importam. E os que os rodeiam reforçam também as dificuldades da luta de ambos.
Tudo isto se entrelaça numa história equilibrada, sempre cativante, comovente em todos os momentos certos e que realça em pleno as verdadeiras dificuldades da vida e das decisões dos seus protagonistas. Capaz de despertar lágrimas e risos e, acima de tudo, questões importantes, um livro tão envolvente como memorável. E muito bom. 

Autora: Jojo Moyes
Origem: Recebido para crítica

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