Durante décadas, muitos académicos especializados na obra de Caravaggio buscaram, em vão, a pista de um dos seus quadros mais conhecidos, desaparecido depois de um leilão. Mas foram precisas algumas descobertas fortuitas para o recuperar. Esta é a história da descoberta de A Deposição de Cristo, baseada em factos reais e construída numa narrativa que acompanha os principais protagonistas da investigação. É, também, uma interessante incursão no mundo da arte e do estudo da sua história.
Apesar de ser narrado quase como uma obra de ficção, acompanhando o percurso das figuras mais relevantes e revelando ainda um toque das suas vidas pessoais e da impressão que têm uns dos outros, este é um livro que se centra nos factos. E, por se centrar nos factos e apresentar toda uma série de pormenores sobre eles, nunca será uma leitura compulsiva, já que a componente descritiva é claramente dominante. Há, ainda assim, muito de interessante para descobrir neste livro.
Um dos grandes pontos fortes deste livro é o evidente cuidado em acompanhar igualmente os diferentes protagonistas da descoberta, referindo tanto os passos no sentido do sucesso como os pequenos fracassos, as frustrações de pistas impossíveis de seguir e até os atritos entre os vários intervenientes. Isto permite ficar com uma visão bastante clara dos protagonistas, não só no que diz respeito às suas conquistas, mas também à forma de ser que os define. Além disso, abre também uma base para a caracterização do mundo académico e das facilidades e dificuldades encontradas nos diferentes lugares onde os protagonistas pretendem aprofundar as suas pesquisas.
Um outro aspecto de referir é o cuidado em, apesar de ser a investigação do paradeiro do quadro o centro de todos os acontecimentos, referir as linhas essenciais da vida do seu criador. A história de Caravaggio é um elemento discreto ao longo da narrativa, mas uma presença relevante, quer para justificar alguns dos passos dos investigadores, quer, e principalmente, para dar uma imagem da mente por detrás da obra e do percurso por ela percorrido.
Devido, mais uma vez, ao foco essencialmente nos factos, fica também, por vezes, uma sensação de distância relativamente aos protagonistas. Nem sempre, já que os ocasionais momentos de tensão e algumas das revelações mais importantes vêm revelar um pouco das pessoas que dão forma à descoberta. São, ainda assim, situações esporádicas, e a distância contribui também para o ritmo pausado da narrativa. Sem, contudo, retirar interesse ao conteúdo.
Bastante descritivo e um pouco distante, A Obra-Prima Desaparecida centra-se mais nos factos que nos seus protagonistas, dando à descoberta - e aos passos dados nesse sentido - considerável destaque relativamente àqueles que a descobriram. O resultado é, inevitavelmente, uma leitura de ritmo pausado. Mas muito interessante, ainda assim, pelo retrato completo que apresenta dos meios e experiências envolvidas no estudo e na história da arte. Gostei.
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