domingo, 11 de novembro de 2012

Juliana - Condessa Stroganoff (José Norton)

Filha da marquesa de Alorna e presa a um casamento feito para cumprir a vontade da mãe, Juliana de Almeida Oeynhausen viu-se, na sequência das invasões francesas, obrigada a deixar o país e a família, dando início a um longo ciclo de adversidades. Ligada a um marido cujas posições a comprometiam, a sua vida parecia destinada à má sorte. Mas Juliana, culta e determinada, nunca deixou de lutar contra o infortúnio e o seu longo percurso pelo mundo levou-a a travar conhecimento com muitas grandes figuras da sua época. E a encontrar o amor, desafiando todas as convenções para conquistar o direito à sua vontade. A memória que dela ficou foi, em muitos aspectos, negativa. Mas este livro apresenta uma história diferente.
Ainda que este livro seja essencialmente uma biografia de Juliana, sendo, portanto, esta a figura no centro de tudo o que é narrado, importa referir que nem só a ela dizem respeito os temas e episódios aqui desenvolvidos. Há, desde logo, uma boa exposição da situação global e das mudanças ocorridas ao longo da vida de Juliana, bem como das movimentações políticas, quer dos que a rodeavam, quer ainda do conde Stroganoff e do país por este representado. Há, também, alguns episódios que, dizendo respeito a Juliana de forma muito vaga, acabam por surgir como particularmente interessantes, com particular destaque para o caso de Pushkin, que, com muito pouca intervenção por parte dos protagonistas desta biografia,, acaba por ser, ainda assim, um momento particularmente interessante, em grande parte pela tensão emocional que representa, mas também pela colisão de interesses divergentes.
Mas é Juliana o centro deste livro e, como tal, importa destacar principalmente o retrato que dela se apresenta. Citando, muitas vezes, a sua correspondência, mas também diários e cartas dos que com ela conviveram, o autor apresenta aqui uma visão bastante completa da sua biografada. E fá-lo não apenas no que respeita à posição de Juliana ante a sociedade, com a descrição de como a viam e do que fazia, mas também do seu lado mais íntimo e pessoal, explorando as dores e alegrias dos seus sucessos e misérias. As cartas são, aliás, muito eloquentes no que respeita à sensibilidade de Juliana, sendo, por isso, uma mais valia para a criação de um retrato humano e completo do seu carácter.
Ao desenvolver tanto o percurso de Juliana como a contextualização da época, é inevitável que este livro apresente uma longa sucessão de nomes e eventos para assimilar, já que não só os tempos eram de mudança, como a própria Juliana esteve presente na sociedade de vários países. Assim, e ainda que o livro seja bastante acessível em termos de escrita, há muitos pormenores para assimilar, o que torna o ritmo de leitura bastante pausado. Para isto contribui também o facto de, a fim de manter presentes as mudanças a decorrer em Portugal, o foco da narrativa se afastar, por vezes, da sua figura central. Tudo isto torna a leitura mais lenta, é certo, mas torna-a também mais completa, já que permite uma visão mais clara do contexto em que se movem as suas figuras principais.
Cativante, ainda que de ritmo pausado, trata-se, em suma, de uma leitura envolvente e interessante, que apresenta um retrato bastante completo do carácter e, principalmente, da vida de Juliana, bem como da época em que decorreu. Uma boa leitura, portanto.

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