Relativa aos anos em que Saramago desempenhava as funções de director literário na Estúdios COR, esta correspondência abrange não só os assuntos profissionais, mas reflecte também a confiança e a amizade que se foi estabelecendo entre os dois autores. Com referências a vários nomes conhecidos do panorama cultural da época, este livro reflecte um laço de amizade constante, ainda que marcada por vários silêncios e alguns mal-entendidos, relativos principalmente às questões profissionais.
Organizada e bastante completa - ainda que estejam em falta algumas cartas, é perfeitamente possível acompanhar a cronologia dos acontecimentos - esta correspondência apresenta uma série de factores de interesse. Para além de uma visão bastante clara do que seria a vida de José Rodrigues Miguéis no estrangeiro (e particularmente das dificuldades por que passou) e também dos altos e baixos da vida de Saramago enquanto director literário da Cor, é possível ficar com uma ideia muito clara do que seriam as atribulações da época no que à vida editorial diria respeito. Atrasos de pagamento, envios perdidos, detalhes e falhas gráficas e a inevitável intervenção ocasional da Censura são apresentadas com a simplicidade directa que caracteriza, mais que um elo profissional, uma relação de confiança entre amigos. E se é possível captar, nalgumas cartas, uma certa tensão derivada das demoras e complicações profissionais, não menos evidente é o respeito e admiração mútua entre estes dois escritores.
Uma leitura interessante, sem dúvida, e que não posso deixar de recomendar aos apreciadores de qualquer um destes dois autores, mas também aos interessados em saber mais sobre as relações e agitações editoriais daquela época.
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