quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Rainha Vermelha (Philippa Gregory)

Margarida Beaufort sempre julgou ter uma relação privilegiada com Deus. Mas, herdeira da linhagem dos Lancaster, imaginar que o seu caminho pudesse passar pelo convento seria pouco mais que um devaneio inconsequente. Obcecada pela perpetuação da linhagem, assegurando um herdeiro ao trono, a sua mãe estabelece para Margarida um acordo de casamento com um nobre galês. Mas, num reinado instável, onde a guerra entre as famílias rivais se torna progressivamente mais feroz, Margarida encontrará em si uma nova missão "divina": a de garantir para o seu filho o trono de Inglaterra. E, para o alcançar, fará tudo aquilo que for necessário.
Tendo A Rainha Branca sido um dos meus livros preferidos de 2010, escusado será dizer que as expectativas para esta leitura eram elevadíssimas. E se este livro se revelou, de facto, uma leitura envolvente e interessante, tanto no aspecto das múltiplas acções e planos de Margarida como na caracterização daqueles que o rodeiam, a verdade é que, num balanço global, ficou um pouco aquém das expectativas.
É importante referir, antes de mais, que uma considerável parte dos acontecimentos narrados neste livro são coincidentes com os de A Rainha Branca, sendo, contudo, vistos maioritariamente do ponto de vista de Margarida e, portanto, dando ênfase a outros detalhes e circunstâncias. Ainda assim, a linha geral da narrativa acaba por ser já algo familiar e, comparando as personalidades de Isabel Woodville e Margarida Beaufort, é inevitável a sensação de que, ao ver pelos olhos de uma personagem que cria empatia quase imediata, em contraste com Margarida, que tem os seus momentos quase odiosos, a história ganha uma profundidade pessoal que não tem a mesma intensidade neste livro.
É, ainda assim, fascinante a caracterização de Margarida, e o contraste entre esta e Isabel torna-se mais claro pelos sentimentos que Margarida nutre pela rainha de Eduardo IV. Obcecada pela santidade, demasiado segura de conhecer a vontade de Deus e, por vezes, insensível perante tudo o mais que não envolva os seus interesses, a personalidade de Margaret revela-se no seu mais frio e mais altivo, contrastando também com os que lhe são mais próximos. Henrique Stafford, na sua relutância a lutar. Lorde Stanley, na insistência em permanecer do lado vencedor. E, claro, Jasper Tudor, no amor distante e na devoção a Henrique, sobre quem fica, ainda, muito por esclarecer.
Uma leitura envolvente, com alguns momentos marcantes e com a escrita fluída e agradável que é característica da autora. Não tem o impacto emocional criado em A Rainha Branca, talvez devido à protagonista mais centrada em si própria, ou talvez devido ao enredo já familiar. Não deixa de ser, ainda assim, um livro cativante.

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