Um pequeno cenário para a história de uma família complexa, feita de crises, interesses e estranhezas, de ligações inesperadas e de mudanças totais. Garman & Worse, a firma que serve de base a paixões e ódios entre os que conhecem as figuras por detrás do nome. E uma caminhada em progressiva decadência, no que parece ser uma história de amores e de sonhos, mas que cedo se revela como um retrato duro e directo de uma sociedade onde a palavra de ordem parece ser resignação.
Este é um livro exigente em múltiplos aspectos. Primeiro, o ritmo essencialmente pausado da narrativa, onde cada aspecto é explorado na sua mais ampla vertente, exige uma leitura atenta e paciente. Os momentos de impacto são intensos e marcantes, mas a história é tão feita destes episódios como das pequenas circunstâncias que os unem. Além disso, existem ligações entre os diversos intervenientes desta história que apenas numa fase mais avançada da leitura se tornam completamente evidentes. Por último, também do ponto de vista emocional esta leitura se torna algo exigente, na sua progressiva evolução no sentido da renúncia ante algo inevitavelmente perdido, de uma vida que continua, mas onde a marca inevitavelmente ficará.
E, contudo, são estes mesmos aspectos que tornam este livro fascinante. Ao intercalar os grandes momentos com as pequenas coisas do quotidiano, a narrativa torna-se num retrato preciso de tempo, gentes e local. Ao caminhar na direcção da perda e da resignação, a história torna-se real, já que muito dificilmente as tragédias de cada um passam pela vida sem deixar cicatrizes. E até a forma como os idealismos iniciais acabam por quebrar, culminando num final que ganha mais impacto pela forma como, sem grandes dramas, a perda é simplesmente assimilada.
Dificilmente se tratará de uma obra de leitura compulsiva. Exige atenção, exige uma disposição adequada e, sem dúvida, exige algum tempo para assimilar todos os sentidos de cada acontecimento. É, ainda assim, uma leitura que marca pela beleza e pelo detalhe da escrita, bem como pelo realismo com que o inevitável é recebido na narrativa.
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