quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A Filha do Rei (Barbara Kyle)

Henrique VIII morreu e é agora a sua filha Maria quem detém o trono de Inglaterra. Mas os seus planos não auguram nada de bom para o reino, já que passam, antes de mais nada, por casar com o príncipe Filipe de Espanha, restaurar o catolicismo e terminar com a proliferação dos hereges. Fala-se, por isso, em rebelião e a luta contra as determinações de Maria tem como líder Thomas Wyatt. E é neste cenário que vamos encontrar Isabel Thornleigh, em vias de se casar e determinada a prestar auxílio aos rebeldes. Mas ela nada sabe do passado dos pais e, quando Edward Sydenham revela esse segredo aos inimigos, Isabel ver-se-á na necessidade de agir para tirar Honor, gravemente ferida, do país e salvar o pai da prisão.
Se comparar este livro com A Aia da Rainha, existem várias diferenças bastante evidentes. Trata-se de um livro bastante mais negro, com acontecimentos perturbadores e onde a traição desempenha o papel de máximo protagonismo. Isto é particularmente claro já que a protagonista surge, numa fase inicial, como alguém demasiado inocente, que não sabe das aventuras vividas por Honor e Thornleigh e que, por isso, chega a lamentar a sua vida demasiado inerte. A situação mudará, contudo, e, à medida que o ritmo se torna progressivamente mais intenso, enquanto acontecimentos marcantes e situações surpreendentes se sucedem, é possível ver em Isabel um claro crescimento, em termos de modo de ser, mas também de descoberta de quem serão aqueles em quem pode confiar.
Não tendo a mesma força que Honor Larke, Isabel representa, ainda assim, uma boa parte dos princípios mostrados pela pupila de Thomas More em A Aia da Rainha. Apesar disso, não é propriamente ela o elemento mais interessante entre as várias vidas que se cruzam neste livro. Carlos Valverde, com a sua lealdade vacilante entre o dinheiro e os sentimentos que persistem ganhar vida dentro de si é, apesar de não ter a presença intensa de Thornleigh, um indivíduo bastante interessante. Edward Sydenham, com os seus jogos de intriga e a sua natureza cobarde, ganha aqui contornos de um ódio de estimação. E Thornleigh, apesar de fragilizado pela idade e pela tenebrosa situação em que se encontra, continua a ser a presença marcante que deu a conhecer nas suas aventuras com Honor Larke.
Uma história envolvente, escrita de forma fluída e cativante, e que, através dos seus momentos mais emotivos e marcantes, não deixa de transmitir uma forte mensagem acerca da lealdade - e das difíceis escolhas que esta implica quando dois interesses se confrontam. Intriga, traição e amor - nas suas diversas formas - fazem de A Filha do Rei um livro que, não sendo tão intenso como A Aia da Rainha, é, ainda assim, muito bom.

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