Depois dos anos investidos na sua formação na Europa - porque é na Europa que se fazem doutores a sério - Paulo Rigger regressa ao Brasil. Mas aquilo que encontra cedo lhe estilhaça as ilusões. Procura a felicidade no sentimento, mas encontra mentiras e traições. Procura-a na filosofia, mas também aí as diferentes respostas com que se depara são incompatíveis com o sentido que busca. E o seu peculiar grupo de amigos, cada um, sem o saber, na sua busca solitária, acaba por funcionar também como uma expansão da dúvida, mais que como um apoio na busca por certezas.
Não é, nem pretende ser, belo e idealista o retrato do Brasil que o autor traçou neste livro. É ambíguo, com os seus momentos de fortuna e os seus momentos de degradação, as suas revoluções e contra-revoluções, e, principalmente, o desencanto de quem vinha com sonhos na mente, para encontrar apenas uma profunda desilusão. Porque é esse, afinal, o papel de Paulo Rigger nesta história. O do brasileiro que conheceu os seus melhores tempos no estrangeiro e que vem com a maior das ilusões acerca do seu país natal, para encontrar uma realidade bem diferente da dos seus sonhos.
A escrita é acessível, sem grandes elaborações. A grande força deste livro está na mensagem, na estranha tristeza que certos momentos transmitem, no percurso de uma luta tão forte (e, contudo, tão vã) por essa estranha e esquiva criatura chamada Felicidade. E todas as divagações, todas as peculiaridades que marcam a natureza de cada personagem e das suas interacções, ainda que, por si próprias, possam surgir como um pouco surreais, acabam por fazer sentido no cenário global.
Uma visão onde muito pouca inocência prevalece, mas onde a persistência e a consequente desilusão na procura de um fim que realmente valha a pena são representadas de forma clara e profundamente real. Muito bom.
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