segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Acompanhante (Jonathan Ames)

Após um escandaloso incidente na escola onde dava aulas, Louis Ives decidiu mudar-se para Nova Iorque com o objectivo de se encontrar. Para isso, decide alugar um quarto relativamente barato e começar a procurar um novo emprego. Mas Henry, o senhorio, é um indivíduo cheio de peculiaridades e a relação que se estabelecerá entre ambos será, em simultâneo, estranha e intensa.
Existem neste livro duas histórias entrelaçadas, tendo ambas as vontades de Louis com motivo central. Por um lado, Louis sonha ser um jovem cavalheiro ao estilo dos romances, e para isso beneficiará dos conhecimentos de Henry relativos às curiosas formas de ser da sociedade. Neste aspecto, o livro centra-se numa intrigante descrição dos costumes sociais, tanto daqueles com fortuna, como dos que fingem ser ricos e importantes com o objectivo de tirar benefícios da fortuna dos outros. Por outro lado, temos as dúvidas de Louis relativamente à sua sexualidade e, por isso, vemos as suas experiências de descoberta, ao vestir roupa feminina, ao entrar num bar frequentado maioritariamente por transexuais e ao conviver com algumas das relações que estabelece nesse bar. Por várias vezes, estas duas histórias parecem entrar em conflito, em grande parte devido à mentalidade de Henry, que, por vezes, se revela como bastante fechada. E ainda que os dois diferentes mundos de Louis não se cruzem muitas vezes, existem momentos em que tudo parece avançar na direcção de uma revelação explosiva.
Não se trata propriamente de um livro de leitura compulsiva. O autor demora-se na caracterização dos ambientes e das personagens, nos pensamentos que lhes habitam a mente e nas dúvidas e filosofias que os tornam naquilo que, de facto, são. Isto resulta num ritmo bastante lento, até porque os próprios acontecimentos são explorados ao pormenor, criando um imagem global bastante completa - ainda que, por vezes, improvável - do mundo onde decorre a estranha forma de convivência entre Louis e Henry.
Interessante na generalidade, com uma escrita fluente e bastante atenção ao detalhe, este é um livro que, apesar de um duo de protagonistas que não apelam propriamente à simpatia, chama a atenção pela peculiar relação, tão evidente apesar de tão cheia de barreiras, que se vai estabelecendo entre Louis e o seu senhorio, já que, mais que a sua descoberta da sexualidade, são os laços de empatia que dão intensidade a esta história. Uma narrativa de costumes e de interesses, mas também - ainda que por vezes não pareça - sobre a criação de laços com aqueles que nos rodeiam.

1 comentário:

  1. Estou neste momento a ler este livro e concordo com tudo o que disseste. É uma leitura algo lenta pela complexidade do seu conteúdo, no entanto, isso não lhe tira qualquer mérito. Estou a gostar.

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